A IMPOSICÃO DO "ESTILO NACIONAL"

A institucionalização do chamado Estado Novo com a Constituição de 1933 e a afinação progressiva, ao longo dos anos 30, dos instrumentos ideológicos e repressivos que o suportavam, reclamavam com crescente insistência uma expressão arquitectónica que fosse adequada ao novo regime. Isso era tanto mais necessário quanto tal regime utilizava uma política enérgica de obras públicas como instrumento privilegiado de acção.

Também neste caso a influência do exterior se fez sentir. Impulsionada pelo ascenso de regimes ditatoriais, que impunham aos seus súbditos um quadro de vida totalitário a que a produção artística não podia escapar, um movimento que se opunha à arte de vanguarda ganhou peso na Europa. Dominando o aparelho de Estado em alguns países, desenvolveu uma violenta acção repressiva, no sentido de impor pela força os canones oficiais.

Foi assim que, no nosso país uma ideologia retrógada, que defendia expressões arcaizantes na produção artística, na defesa de supostos valores nacionais, foi utilizada pelo regime para fabricar uma arquitectura própria. A dinâmica acção do ministro Duarte Pacheco e as comemorações centenárias de 1940 forneceram os instrumentos e a ocasião para a imposição de tal arquitectura.

Se, ao nível das obras públicas, essa tarefa era facilitada pelo próprio encaminhamento da encomenda dos projectos e pelas directrizes concretas dos organismos of iciais, no campo da construção imobiliária, do âmbito quase exclusivo da iniciativa privada, era necessário encontrar meios apropriados àqueles objectivos. Isto foi conseguido através de uma poderosa intervenção municipal, que consistiu no loteamento de uma importante fatia do Parque Eduardo Vll e na encomenda dos respectivos projectos, com a declarada finalidade de se obter um estilo nacional. O impacto produzido resultou: não só foram aliciados para as novas concepções arquitectos que se tinham prestigiado na linha do movimento moderno, como se produziram modelos que serviram de catálogo para todo o país.

Foi assim interrompida, por uma intervenção do poder político, uma evolução que se vinha processando: uma prolongada noite caía sobre a arquitectura em Portugal.
 
Av. António Augusto de Aguiar, 19
Prédio construído integrado no grande quarteirão, também com frente para a Av. Sidónio Pais, edificado sob a orientação do ministro Duarte Pacheco, cerca de 1940.
Na tentativa de criação da criação de um "estilo português", este conjunto procurou impor um modelo, o que teve funestas consequências para a produção arquitectónica no nosso país.
Largo emprego de cantaria, revestimento de marmorite e pavimentos ainda de vigamento de madeira.


Prédios e Vilas de Lisboa

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